terça-feira, 27 de novembro de 2012

O TEMPLO DE SALOMÃO



O TEMPLO DE SALOMÃO

 Imagem Ficticia do Templo do Rei Salomão

O Templo de Salomão ocupa uma posição de destaque na simbologia maçônica, tratando-se de uma das maiores fontes de símbolos, alegorias, lendas e ensinamentos maçônicos. É mencionado nas mais antigas tradições dos operários da Idade Média e integra os mais poéticos temas dos maçons especulativos da atualidade.
De todo este simbolismo, é possível extrair as mais diversas mensagens tanto na vertente anglo-saxônica (o mundo cultural de língua Inglesa) como na vertente latina (o mundo cultural francês), nos diversos ritos e graus.
A formação dos novos maçons (Aprendizes) apoia-se fortemente na utilização destes símbolos, alegorias, lendas e mitos. A tradição maçônica relativamente ao Templo de Salomão veja-se que o próprio James Anderson afirmou no livro da Constituição (1723) que "os israelitas ao deixarem o Egito, formaram um Reino de Maçons"; que "sob a chefia de seu Grão-Mestre Moisés (...) reuniam-se frequentemente em loja regular, enquanto estavam no deserto", etc...
Vale a pena (e a curiosidade) ler essas páginas da história lendária de nossa sublime Ordem contada por Anderson que podem ser encontradas em Reprodução das Constituições dos Francomaçons ou Constituições de Anderson de 1723, em inglês e português. De fato, Anderson apenas repetia velhas lições transmitidas por antigos documentos de maçons operativos (profissionais), reunidos para seu exame e síntese. As Obrigações eram lidas na cerimónia de ingresso de um aprendiz na loja medieval (algo análogo à iniciação de nossos dias), para que o novo membro aprendesse a história da arte de construir e da associação que o recebia. Inteirava-se das regras de bom comportamento e das exigências morais que deveria respeitar - de algum modo, esses antigos documentos tinham uma finalidade análoga à das nossas atuais cartas constitutivas, emprestando regularidade à loja.
O leitor interessado encontrará detalhes e documentação em O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica, Alex Horne. Os antigos catecismos maçônicos (séries de perguntas e respostas) do século XVIII também se referiam com frequência à construção do Templo de Salomão que, inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717). Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros para escrever o Livro da Constituição de 1723, não são exactamente conhecidos, centenas de velhos outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e interpretados, constituindo uma fonte das mais autênticas para a história da nossa sublime Ordem. Nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do Templo de Salomão pelos maçons. Convém contudo, no que concerne à historia, tratar tais documentos com certa reserva. Na origem, foram escritos por religiosos medievais, devotados a Deus sem dúvida nenhuma, mas desprovidos de crítica histórica. Presume-se que monges cristãos transmitiram essas lições a operários iletrados (nossos avós) e que tais documentos foram sendo copiados, recopiados, etc., mantendo a visão de uma época que muito desconhecia da História. A tradição bíblica o Templo de Salomão, integra as narrativas do livro mais respeitável da sociedade ocidental - a Bíblia.

 Fuga do Egito
Ao sair do Egito, conduzido por Moisés, o povo hebreu não possuía uma religião definida, muito menos um templo. Sómente após o episódio no monte Sinai - quando Moisés recebe de Deus as normas fundamentais da Lei bem como as instruções exatas quanto à construção da Tenda Sagrada (o Tabernáculo) - é que os hebreus passam a ter um local específico de culto, abrigando nessa Tenda os objetos sagrados: a Arca da Aliança, a Mesa dos pães ázimos (ou sem fermento), o Candelabro de sete braços (Menorá). Haveria também um altar para queimar as ofertas sacrificais, outro para queimar incensos (perfumes) e uma pia de bronze.
Tabernaculo
 
Enquanto o povo vagueava pelo deserto, Deus orientava quando, onde e por quanto tempo estacionar. Os que fugiram do Egito mudavam o seu acampamento de um lugar para outro, somente quando a nuvem que cobria o Tabernáculo (indicando a presença do Eterno) se erguia e indicava o caminho a ser seguido. Durante o dia, a nuvem; à noite, uma coluna de fogo (veja em Êxodo, 40.34-38; ou em Números, 9.15-23). E foram quarenta anos. Antes de Jerusalém ser transformada por David na capital do reino, ainda no tempo de Samuel (um sacerdote, juiz, profeta, mediador, chefe de guerreiros), Deus, falando a Jeremias, equipararia Samuel a Moisés - Jer. 15.1 - a Arca ficou guardada num templo, em Silo, sob os cuidados da família de Eli, também sacerdote. Em Silo, Josué (que sucedera a Moisés) acampara o povo pela última vez (Josué, 18.1 e sgs.). Esse pequeno templo de Silo foi, presumidamente, destruído pelos filisteus (Jer. 7.11-12: "Será que vocês pensam que o meu Templo é um esconderijo de ladrões? Vão a Silo, o primeiro lugar que escolhi para nele ser adorado, e vejam o que fiz ali por causa da maldade de Israel." Assim falou o Eterno.). David, já consagrado rei, levaria a Arca da Aliança para Jerusalém (1 Crónicas 15.25-28). Tão alegre e festivo esteve David nesse cortejo (cantando e dançando com o povo), que Mical, sua esposa, filha de Saul, sentiu desprezo por ele (1. Cron., 15.29). Contudo o tabernáculo e o altar dos sacrifícios continuariam em Gabaon, visto que David caíra em desgraça aos olhos de Deus. Derramara sangue em abundância, fizera guerras em demasia e, por isso mesmo não poderia edificar em nome de Deus (ver I Cron. 22.6-19). Somente Salomão teria a glória de construir o Templo - o primeiro de Jerusalém, dada a existência de mais dois templos: o construído por Zorobabel, após o exílio na Babilónia, e o construído por Herodes. Fontes extra bíblicas Apesar das minuciosas descrições registadas na Bíblia, ainda não foi possível, contudo, ter certezas quanto a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registos extra bíblicos. As escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma prova válida da existência dessa obra. Explica-se tal ausência de restos arqueológicos à completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonosor, ou à insuficiência de escavações no próprio sítio atribuído à localização do Templo. Esse lugar (santificado por diversas linhas religiosas) seria o hoje ocupado pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar, ou o Domo da Rocha, onde Abraão, obediente a Deus, quase sacrifica seu próprio filho, Isaac (Gen. 22.1-19) - onde, de modo significativo, a tradição islâmica localiza Maomé subindo ao Céu (portanto mais do que justificada a recusa maometana em permitir escavações naquele local santificado). Contudo, não são encontrados, também, registos arqueológicos (monumentos comemorativos) da vitória de Nabucodonosor, como, por exemplo, podem ser encontrados registos do triunfo romano de Tito, seiscentos anos depois, destruindo o templo construído por Herodes (a terceira construção na série histórica). Alúde-se ao célebre "muro das lamentações" como tendo sido parte da grande alvenaria de arrimo na esplanada do Templo. Contudo as determinações científicas de data, dali oriundas, dão ao muro idade próxima à década anterior ao nascimento de Cristo, tornando-a uma obra mais adequada de ser atribuída ao terceiro templo, destruído pelos romanos. Contudo Salomão foi efectivamente um grande construtor. A sua época - historicamente considerada, arqueologicamente comprovada - foi de grande prosperidade. Um dos registos arqueológicos mais significativos dessa época, é o da cidade de Megido, um complexo notável, cavalariças com pilares em série, talhados em pedra calcária. Do tempo de Salomão, há ainda restos arqueológicos da fundição - refinaria de cobre em Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que serviria de ornamentos e utensílios de bronze (que as narrativas bíblicas apontam ao Templo). Do mesmo modo, mesmo sem descobrimentos arqueológicos em Jerusalém, pelo resultado de outras escavações e estudo de documentos diversos é possível estabelecer conclusões quanto à arquitectura atribuída ao Templo de Salomão, no que se refere à ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do Oriente próximo. São lições preciosas. Conclusão Enfim, o maçom é mestre na arte de compor oposições e não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados por alegorias que nos proporciona a história (ou a lenda) da construção do Templo do Rei Salomão. Não desprezará a tradição dos maçons operários, só porque a Arqueologia ainda não obteve provas irrefutáveis;  não se negará a tradição bíblica somente por insuficiência de escavações arqueológicas. Jules Boucher, célebre obra "A Simbólica Maçônica": os maçons não tentam reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais - é o ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo no silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade) e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, "o Templo de Salomão não é considerado nem em sua realidade histórica, nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas no seu significado esotérico, tão profundo e tão belo". O Templo de Salomão é o templo da paz. Que a Paz do Senhor permaneça nos nossos corações!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

REAA - TRONCO DE SOLIDARIEDADE



TRONCO DE SOLIDARIEDADE



Afirmam alguns maçonologos que pelo menos na Europa Continental, todas as Lojas maçônicas têm um “Tronco da Viúva*” (Tronco de Benevolência, Tronco de Solidariedade). O “Tronco da Viúva” não é mais do que um fundo de reserva de meios monetários destinado a acorrer a situações de necessidade de maçons, de viúvas e filhos menores de maçons já falecidos e, de forma geral, a ações de beneficência.
Os fundos do “Tronco da Viúva” são exclusivamente obtidos mediante donativos dos obreiros da Loja e seus visitantes ou mediante ações de angariação de fundos a ele destinados - leilões, iniciativas sociais, etc.
Os fundos do “Tronco da Viúva”, tal como os demais valores da Loja, ficam à guarda do Tesoureiro desta. Mas são separadamente contabilizados dos demais recursos da Loja e só podem ser usados para os referidos fins de auxílio ou beneficência. Os fundos do “Tronco da Viúva” só podem ser utilizados por decisão do Venerável Mestre ou do Hospitaleiro, Oficiais da Loja em que esta delega o encargo de bem analisar as situações que justifiquem a mobilização desses fundos. Pelo menos anualmente, o Hospitaleiro deve apresentar um sucinto relatório sobre a situação do “Tronco da Viúva” e a aplicação dos seus fundos.
Revista Cultural Maçônica "Engenho & Arte na Maçonaria Universal" - nº 16/2006


Em algumas Lojas, pode também existir uma Comissão de Beneficência, encarregada de estudar as ações da Loja neste campo.
Afirmam alguns que a designação de “Tronco da Viúva” tem a ver com a lenda da construção do Templo de Salomão, que foi dirigida por um arquiteto, de nome Hiram Abif, que, na Bíblia, é referenciado como filho de uma viúva de Tiro. Hiram Abif é, desde tempos imemoriais, o protagonista de uma alegoria que constitui o cerne da moralidade maçônica, a tal ponto que os maçons, nele se revendo, designam-se a si próprios por Filhos da Viúva.

HIRAM ABIF


Essa assertiva não tem validade, haja vista que na verdade, a origem do “Tronco da Viúva” vem das primeiras sociedades de maçons operativos. Vejamos o  que diz algunas dos antigos regulamentos (estatutos) sobre o Tronco:

CATEDRAL DE STRASBURG


1. Carta de Bolonha – 1248** (vide livro Antigos Manuscritos – As Origens da Francomaçonaria – Cavalcante, Sergio)
XVII – Da ajuda a que todos os Mestres estãso obrigados junto a um membro falecido, quando convocados
Estatuímos e ordenamos que, se algum de nossos mebros for chamado ou citado para acudir a familia de um mebro falecido e não se apresentar, que pague , a titulo de multa, doze denários bolonheses, a menos que estivese autorizado para isso, ou ainda por motivo de força maior. O corpo do falecido deve ser conduzido a sepultura por membros da sociedade. E o procurador da sociedade deve obter da  assembleia o valor de dezoito denários bolonheses que por falecimento de um de seus membros seja entregue a sua familia. E se o procurador não tomar essa providencia ele deverá pagar a sociedade dezoito denários a titulo de multa. E que os oficiais e o presidente sejam os responsáveis pelo recebimento desta quantia
Estatuto de Estrasburgo – 1459 (vide livro Antigos Manuscritos – As Origens da Francomaçonaria – Cavalcante, Sergio)
XXVIII – Agora, para que esses regulamentos do ofício possam ser seguidos de forma mais honesta, com serviço a Deus e outras coisas necessárias e adquedas, cada Mestre que tenha artesãos trabalhando em sua Loja, e pratique a maçonaria e pertença a esta fraternidade, e depois de cada ano pagará quatro blapparts (pequenas moedas de prata), ou seja, em cada semana santa um blappart ou Bohemian a ser pago a caixa da freternidade, e cada Companheiro pagará quatro Blapparts, e assim igualmente um Aprendiz que tenha servido os eu tempo
XXXII – Se um Mestre ou Companheiro ficar doente, ou um Companheiro que pertence a fraternidade e tenha vivido com retidão na Maçonaria, for afligido com doença prolongada e necessidade de alimento e dinheiro, então o Mestre encarregado da caixa lhe prestará socorro e assistência da caixa, se ele de outra forma puder, até que ele se recupere de sua doença, e deve depois jurar e prometer restituir o mesmo a caixa. Mas, se ele morrer de tal doença, então tanto deve ser tomado daquilo que ele deixar na sua morte, seja roupas ou outros artigos, como restituição do que foi emprestado a ele, se tanto ali exstir.”
Alegoricamente, nos tempos modernos, a Viúva será a Maçonaria, em especial na sua vertente de solidariedade e beneficência. O “Tronco da Viúva” é, pois, um dos alicerces da Maçonaria, o reservatório dos bens que lhe possibilitam despender fundos em acções de solidariedade e beneficência. É alimentado pelos seus filhos, os Filhos da Viúva, os maçons.
Externamente, e em cumprimento do comando da moral maçônica de que as ações de beneficência devem ser praticadas discretamente, um maçom ou uma Loja Maçônica nunca revelam ou comentam ou divulgam quanto foi dado para esta ou aquela ação, com quanto se contribuiu para aliviar a necessidade desta ou daquela pessoa. Isso é matéria que só interessa a quem disponibiliza a ajuda e a quem a recebe. A regra é simples e não tem de ser mais específica: em cada momento, deve dar-se o que se pode e seja preciso. Nem menos, nem mais.
* Esta é a denominação inserida no Ritual de Aprendiz da Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal. – p27.
Já próximo ao encerramento dos trabalhos e após a conclusão do Orador circula-se ao mesmo tempo, o “Tronco da Viúva” e o “Saco das Propostas” na seguinte forma:
VM - *
Meus Irmãos, vai circular o Tronco da Viúva e o Saco das Propostas.
Irmãos Mestre de Cerimônias e Irmão Hospitaleiro, peço o vosso auxílio.
O Hospitaleiro precedido pelo Mestre de Cerimônias, iniciam a marcha dextrorsum pelo Oriente, recolhem o óbolo dos 1º e 2º Vigilantes, fazem-no de seguida junto dos Irmãos Mestres, Companheiros e Aprendizes, respectivamente.
1ºV: - *
Venerável Mestre, acham-se entre colunas os Irmãos Mestre de Cerimônias e Hospitaleiro que fizeram circular o saco das Propostas e o Tronco da Viúva, que se encontram a tua disposição.
VM: - Algum dos meus Irmãos reclama o tronco da Viúva?
1ºV: - Reina silêncio em ambas as colunas Venerável Mestre.
VM: - Sendo assim, Irmão Mestre de Cerimônia e Irmão Hospitaleiro, dirijam-se ao Oriente com o Tronco da Viúva e com o saco das Propostas.
Os dois oficiais entregam os sacos ao secretário, que verifica o seu conteúdo, inscreve o produto encontrado no traçado da prancha, informa a Loja e entrega as propostas ao Venerável Mestre.
SC: - Venerável Mestre, o Tronco da Viúva rendeu a medalha profana de ...kilos.
O produto do Tronco será, no fim da sessão, entregue ao Hospitaleiro.
** Considerado como sendo um dos documentos mais antigo do mundo referente a Ordem Maçônica.

REAA - O HOSPITALEIRO



O HOSPITALEIRO


JOIA DO CARGO DE HOSPITALEIRO UTILIZADO PARA O REAA NA FRANÇA




O Hospitaleiro é o oficial de uma Loja Escocesa* que tem o ofício, a tarefa, de detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio dessas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando, através da Grande Loja (Grande Oriente) e do Grande Oficial com esse específico encargo, o Grande Hospitaleiro, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos membros. Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros. Solidariedade que não significa cumplicidade em ações ilícitas ou imorais, ou encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral. O maçon deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes, não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque auto-determinado e, portanto, responsável pelos seus actos, bons e maus. Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos afectam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem. Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno daquele que, nesse momento, precisa do calor de seus Irmãos. Esse auxílio, esse conforto, essa presença, são coordenados pelo Hospitaleiro. Note-se que a palavra utilizada é "coordenados", não "efetuados" ou "realizados". O Hospitaleiro não é o oficial que efetua as ações de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja dessas ações. O Hospitaleiro é aquele oficial a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita. É claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efetuar a tarefa, ou a delegar a mesma em outro Irmão que seja mais conveniente que a efetue. Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria, isso já não seria auxílio, seria perturbação.

JOIA** DE HOSPITALEIRO UTILIZADA PARA O REAA NO BRASIL


O Hospitaleiro assume, assim, em primeira linha, a tarefa de se informar do estado do Irmão, de o auxiliar e confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado, nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou constantemente assediado pelos contatos dos demais, prejudicando a sua recuperação e o seu descanso. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio é fundamental... A solidariedade maçônica pode traduzir-se em atos (visitas, execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece confiança no inseguro), no simples ato de estar presente ou disponível para o que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa, mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível...) ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões...). A escolha, a combinação, o accionamento das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do que os atos generosos, mas anarquicos e descoordenados... O Hospitaleiro deve estar atento ao surgimento de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas não é omnisciente. Portanto, qualquer maçom que detecte ou conheça uma dessas situações deve comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar, coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça. Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia é que sejam "todos por um", não "cada um pelo outro, todos ao molho e fé em Deus"... A solidariedade maçônica é assegurada, em primeira linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue com a vida. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente! E a solidariedade é algo que não se esgota em circuito fechado. Para o maçom, a beneficência é um simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência em relação a quem - maçom ou profano - necessita, em auxílio das organizações ou ações que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo Hospitaleiro. O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito importante em qualquer Loja maçônica. Deve, por isso, ser desempenhado por um maçom experiente, se possível um ex-Venerável. O símbolo do Hospitaleiro*** é uma bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçom dá para o “Tronco da Viúva”. Mão segurando o saco, no modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o “Tronco da Viúva”, o Hospitaleiro exibe o saco contendo esses óbolos perante a Loja****, demonstrando estar á disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material. Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu adequado e útil uso. 
* Aqui no Brasil, esse cargo foi transportado (migrado) para outros ritos, tal como o Rito Brasileiro. 
** Na verdade, essa joia é oriunda do Sistema Maçônico Inglês, notadamente do Ritual de Emulação, que aqui no Brasil é conhecido equivocadamente por Rito de York, quando não o é.
*** No Ritual do Grau de Aprendiz de 1804, quando da iniciação do candidato, silentemente é citado a doação de certa quantia para o Tronco da Viúva.
**** Nas lojas (blue lodges/lojas simbólicas) norteamericanas não é costume circular em loja o tronco, quer seja de benevolência, solidariedade ou mesmo "tronco da viúva".