O
HOSPITALEIRO
JOIA DO CARGO DE HOSPITALEIRO UTILIZADO PARA O REAA NA FRANÇA
O
Hospitaleiro é o oficial de uma Loja Escocesa* que tem o ofício, a tarefa, de
detectar as situações de necessidade e de prover ao alívio dessas situações,
quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo,
de toda a Loja, quer, se a situação o justificar ou impuser, solicitando,
através da Grande Loja (Grande Oriente) e do Grande Oficial com esse específico
encargo, o Grande Hospitaleiro, a ajuda das demais Lojas e dos respectivos
membros. Um dos traços distintivos da Maçonaria, uma das características que
constituem a sua essência de Fraternidade, é a existência, o cultivo e a
prática de uma profunda e sentida solidariedade entre os seus membros.
Solidariedade que não significa cumplicidade em ações ilícitas ou imorais, ou
encobrimento de quem as pratique, ainda que Irmão, ou sequer auxílio ou
facilitação à impunidade de quem viole as leis do Estado ou as regras da Moral.
O maçon deve ser sempre um homem livre e de bons costumes. De bons costumes,
não violando as leis nem as regras da Moral e da Decência. Livre, porque
auto-determinado e, portanto, responsável pelos seus actos, bons e maus.
Perante a Sociedade e perante os seus Irmãos. A solidariedade dos maçons existe
e pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios
que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo, a todos
afectam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem.
Sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de
conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em
torno daquele que, nesse momento, precisa do calor de seus Irmãos. Esse
auxílio, esse conforto, essa presença, são coordenados pelo Hospitaleiro.
Note-se que a palavra utilizada é "coordenados", não "efetuados"
ou "realizados". O Hospitaleiro não é o oficial que efetua as ações
de solidariedade, desobrigando os demais elementos da Loja dessas ações. O
Hospitaleiro é aquele oficial a quem é cometida a função de organizar, dirigir,
tornar eficientes, úteis, os esforços de TODOS em prol daquele que necessita. É
claro que, por vezes, muitas vezes até, a pretendida utilidade do auxílio ou
apoio ou presença determina que seja só o Hospitaleiro a efetuar a tarefa, ou a
delegar a mesma em outro Irmão que seja mais conveniente que a efetue.
Pense-se, por exemplo, na situação, que aliás inevitavelmente ocorre com alguma
frequência, de um Irmão que é acometido de uma doença aguda, que necessita de
uma intervenção cirúrgica ou que precisa de estar por tempo apreciável
hospitalizado, acamado ou em convalescença. Se todos os elementos da Loja se
precipitassem para o visitar, isso já não seria solidariedade, seria romaria,
isso já não seria auxílio, seria perturbação.
JOIA** DE HOSPITALEIRO UTILIZADA PARA O REAA NO BRASIL
O Hospitaleiro assume, assim, em
primeira linha, a tarefa de se informar do estado do Irmão, de o auxiliar e
confortar e de organizar os termos em que as visitas dos demais Irmãos se devam
processar, de forma a que, nem o Irmão se sinta negligenciado, nem abandonado,
nem, por outro lado, fique assoberbado com invasões fraternais ou
constantemente assediado pelos contatos dos demais, prejudicando a sua
recuperação e o seu descanso. Também na expressão da solidariedade o equilíbrio
é fundamental... A solidariedade maçônica pode traduzir-se em atos (visitas,
execução de tarefas em substituição ou auxílio, busca, localização e obtenção
de meios adequados para acorrer à necessidade existente), em palavras de
conforto, conselho ou incentivo (quantas vezes uma palavra amiga no momento
certo ilumina o que parece escuro, orienta o que está perdido, restabelece
confiança no inseguro), no simples ato de estar presente ou disponível para o
que for necessário (a segurança que se sente sabendo-se que se não precisa,
mas, se se precisar, tem-se um apoio disponível...) ou na obtenção e
disponibilização de fundos ou meios materiais (se uma situação necessita ou
impõe dispêndio de verbas, não são as palavras ou a companhia que ajudam a
resolvê-la: é aquilo com que se compram os melões...). A escolha, a combinação,
o accionamento das formas de solidariedade aconselháveis em cada caso cabe ao
Hospitaleiro. Porque a ajuda organizada normalmente dá melhores resultados do
que os atos generosos, mas anarquicos e descoordenados... O Hospitaleiro deve
estar atento ao surgimento de situações de necessidade, graves ou ligeiras,
prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas não é omnisciente.
Portanto, qualquer maçom que detecte ou conheça uma dessas situações deve
comunicá-la ao Hospitaleiro da sua Loja. E depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar,
coordenar, e colaborar na medida e pela forma que for solicitado que o faça.
Porque, parafraseando o princípio dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas, a ideia
é que sejam "todos por um", não "cada um pelo outro, todos ao
molho e fé em Deus"... A solidariedade maçônica é assegurada, em primeira
linha, entre Irmãos. Mas também, com igual acuidade, existe em relação às
viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque a solidariedade não se extingue
com a vida. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram,
sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade
em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente! E a solidariedade é algo
que não se esgota em circuito fechado. Para o maçom, a beneficência é um
simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência em
relação a quem - maçom ou profano - necessita, em auxílio das organizações ou ações
que benevolamente ajudam quem precisa são, a nível da Loja, coordenadas pelo
Hospitaleiro. O ofício de Hospitaleiro é, obviamente, um ofício muito
importante em qualquer Loja maçônica. Deve, por isso, ser desempenhado por um
maçom experiente, se possível um ex-Venerável. O símbolo do Hospitaleiro*** é uma
bolsa ou um saco, ou ainda uma mão segurando um saco. Bolsa onde o Hospitaleiro
deve guardar os meios de auxílio. Bolsa que deve figurativamente sempre
carregar consigo, pois nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio,
material ou moral. Saco como aquele em que, em cada sessão, se recolhe os
donativos que cada maçom dá para o “Tronco da Viúva”. Mão segurando o saco, no
modo e gesto como, tradicionalmente, após a recolha dos óbolos para o “Tronco
da Viúva”, o Hospitaleiro exibe o saco contendo esses óbolos perante a Loja****,
demonstrando estar á disposição de quem dele necessite. Mas o ofício de
Hospitaleiro, a função que assegura, vão muito para além do auxílio material.
Muitas vezes, o mais importante auxílio que é prestado não implica a necessidade
de recorrer ao metal, que só é vil se não o soubermos nobilitar pelo seu
adequado e útil uso.
* Aqui no Brasil, esse cargo foi transportado (migrado) para outros ritos, tal como o Rito Brasileiro.
** Na verdade, essa joia é oriunda do Sistema Maçônico Inglês, notadamente do Ritual de Emulação, que aqui no Brasil é conhecido equivocadamente por Rito de York, quando não o é.
*** No Ritual do Grau de Aprendiz de 1804, quando da iniciação do candidato, silentemente é citado a doação de certa quantia para o Tronco da Viúva.
**** Nas lojas (blue lodges/lojas simbólicas) norteamericanas não é costume circular em loja o tronco, quer seja de benevolência, solidariedade ou mesmo "tronco da viúva".
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