O
TEMPLO DE SALOMÃO
Imagem Ficticia do Templo do Rei Salomão
O Templo de Salomão ocupa uma posição de destaque
na simbologia maçônica, tratando-se de uma das maiores fontes de símbolos,
alegorias, lendas e ensinamentos maçônicos. É mencionado nas mais antigas
tradições dos operários da Idade Média e integra os mais poéticos temas dos
maçons especulativos da atualidade.
De todo este simbolismo, é possível extrair as mais
diversas mensagens tanto na vertente anglo-saxônica (o mundo cultural de língua
Inglesa) como na vertente latina (o mundo cultural francês), nos diversos ritos
e graus.
A formação dos novos maçons (Aprendizes) apoia-se
fortemente na utilização destes símbolos, alegorias, lendas e mitos. A tradição
maçônica relativamente ao Templo de Salomão veja-se que o próprio James
Anderson afirmou no livro da Constituição (1723) que "os israelitas ao
deixarem o Egito, formaram um Reino de Maçons"; que "sob a chefia de
seu Grão-Mestre Moisés (...) reuniam-se frequentemente em loja regular,
enquanto estavam no deserto", etc...
Vale a pena (e a curiosidade) ler essas páginas da
história lendária de nossa sublime Ordem contada por Anderson que podem ser
encontradas em Reprodução das Constituições dos Francomaçons ou Constituições
de Anderson de 1723, em inglês e português. De fato, Anderson apenas repetia
velhas lições transmitidas por antigos documentos de maçons operativos
(profissionais), reunidos para seu exame e síntese. As Obrigações eram lidas na
cerimónia de ingresso de um aprendiz na loja medieval (algo análogo à iniciação
de nossos dias), para que o novo membro aprendesse a história da arte de
construir e da associação que o recebia. Inteirava-se das regras de bom
comportamento e das exigências morais que deveria respeitar - de algum modo,
esses antigos documentos tinham uma finalidade análoga à das nossas atuais
cartas constitutivas, emprestando regularidade à loja.
O leitor interessado encontrará detalhes e
documentação em O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica, Alex Horne. Os
antigos catecismos maçônicos (séries de perguntas e respostas) do século XVIII
também se referiam com frequência à construção do Templo de Salomão que,
inequivocamente, integra tradições anteriores à Grande Loja de Londres (1717).
Se os manuscritos, manuseados por Anderson e seus companheiros para escrever o
Livro da Constituição de 1723, não são exactamente conhecidos, centenas de velhos
outros pergaminhos sobreviveram, foram encontrados, guardados e interpretados,
constituindo uma fonte das mais autênticas para a história da nossa sublime
Ordem. Nesses antigos deveres (em muitos deles) já se falava na construção do
Templo de Salomão pelos maçons. Convém contudo, no que concerne à historia,
tratar tais documentos com certa reserva. Na origem, foram escritos por
religiosos medievais, devotados a Deus sem dúvida nenhuma, mas desprovidos de
crítica histórica. Presume-se que monges cristãos transmitiram essas lições a
operários iletrados (nossos avós) e que tais documentos foram sendo copiados,
recopiados, etc., mantendo a visão de uma época que muito desconhecia da
História. A tradição bíblica o Templo de Salomão, integra as narrativas do livro
mais respeitável da sociedade ocidental - a Bíblia.
Fuga do Egito
Ao sair do Egito, conduzido por Moisés, o povo
hebreu não possuía uma religião definida, muito menos um templo. Sómente após o
episódio no monte Sinai - quando Moisés recebe de Deus as normas fundamentais
da Lei bem como as instruções exatas quanto à construção da Tenda Sagrada (o
Tabernáculo) - é que os hebreus passam a ter um local específico de culto,
abrigando nessa Tenda os objetos sagrados: a Arca da Aliança, a Mesa dos pães
ázimos (ou sem fermento), o Candelabro de sete braços (Menorá). Haveria também
um altar para queimar as ofertas sacrificais, outro para queimar incensos
(perfumes) e uma pia de bronze.
Tabernaculo
Enquanto o povo vagueava pelo deserto, Deus
orientava quando, onde e por quanto tempo estacionar. Os que fugiram do Egito
mudavam o seu acampamento de um lugar para outro, somente quando a nuvem que
cobria o Tabernáculo (indicando a presença do Eterno) se erguia e indicava o
caminho a ser seguido. Durante o dia, a nuvem; à noite, uma coluna de fogo (veja em Êxodo, 40.34-38; ou em Números,
9.15-23). E foram quarenta anos. Antes de Jerusalém ser transformada por
David na capital do reino, ainda no tempo de Samuel (um sacerdote, juiz,
profeta, mediador, chefe de guerreiros), Deus, falando a Jeremias, equipararia
Samuel a Moisés - Jer. 15.1 - a Arca ficou guardada num templo, em Silo, sob os
cuidados da família de Eli, também sacerdote. Em Silo, Josué (que sucedera a
Moisés) acampara o povo pela última vez (Josué, 18.1 e sgs.). Esse pequeno
templo de Silo foi, presumidamente, destruído pelos filisteus (Jer. 7.11-12: "Será que vocês pensam
que o meu Templo é um esconderijo de ladrões? Vão a Silo, o primeiro lugar que
escolhi para nele ser adorado, e vejam o que fiz ali por causa da maldade de
Israel." Assim falou o Eterno.). David, já consagrado rei, levaria a
Arca da Aliança para Jerusalém (1
Crónicas 15.25-28). Tão alegre e festivo esteve David nesse cortejo
(cantando e dançando com o povo), que Mical, sua esposa, filha de Saul, sentiu
desprezo por ele (1. Cron., 15.29).
Contudo o tabernáculo e o altar dos sacrifícios continuariam em Gabaon, visto
que David caíra em desgraça aos olhos de Deus. Derramara sangue em abundância,
fizera guerras em demasia e, por isso mesmo não poderia edificar em nome de Deus
(ver I Cron. 22.6-19). Somente
Salomão teria a glória de construir o Templo - o primeiro de Jerusalém, dada a
existência de mais dois templos: o construído por Zorobabel, após o exílio na
Babilónia, e o construído por Herodes. Fontes extra bíblicas Apesar das
minuciosas descrições registadas na Bíblia, ainda não foi possível, contudo,
ter certezas quanto a esse primeiro templo de Jerusalém. Não há registos extra
bíblicos. As escavações arqueológicas ainda não apresentaram alguma prova
válida da existência dessa obra. Explica-se tal ausência de restos
arqueológicos à completa destruição que teria sido realizada por Nabucodonosor,
ou à insuficiência de escavações no próprio sítio atribuído à localização do
Templo. Esse lugar (santificado por diversas linhas religiosas) seria o hoje
ocupado pela belíssima e muito sagrada Mesquita de Omar, ou o Domo da Rocha,
onde Abraão, obediente a Deus, quase sacrifica seu próprio filho, Isaac (Gen. 22.1-19) - onde, de modo
significativo, a tradição islâmica localiza Maomé subindo ao Céu (portanto mais
do que justificada a recusa maometana em permitir escavações naquele local
santificado). Contudo, não são encontrados, também, registos arqueológicos
(monumentos comemorativos) da vitória de Nabucodonosor, como, por exemplo, podem
ser encontrados registos do triunfo romano de Tito, seiscentos anos depois,
destruindo o templo construído por Herodes (a terceira construção na série
histórica). Alúde-se ao célebre "muro das lamentações" como tendo
sido parte da grande alvenaria de arrimo na esplanada do Templo. Contudo as
determinações científicas de data, dali oriundas, dão ao muro idade próxima à
década anterior ao nascimento de Cristo, tornando-a uma obra mais adequada de
ser atribuída ao terceiro templo, destruído pelos romanos. Contudo Salomão foi
efectivamente um grande construtor. A sua época - historicamente considerada,
arqueologicamente comprovada - foi de grande prosperidade. Um dos registos
arqueológicos mais significativos dessa época, é o da cidade de Megido, um complexo
notável, cavalariças com pilares em série, talhados em pedra calcária. Do tempo
de Salomão, há ainda restos arqueológicos da fundição - refinaria de cobre em
Ezion-Geber, produtora da matéria-prima que serviria de ornamentos e utensílios
de bronze (que as narrativas bíblicas apontam ao Templo). Do mesmo modo, mesmo
sem descobrimentos arqueológicos em Jerusalém, pelo resultado de outras
escavações e estudo de documentos diversos é possível estabelecer conclusões
quanto à arquitectura atribuída ao Templo de Salomão, no que se refere à
ornamentação, disposição das dependências, técnica construtiva, comparando a
tradição bíblica com restos arqueológicos de outros templos do Oriente próximo.
São lições preciosas. Conclusão Enfim, o maçom é mestre na arte de compor
oposições e não desprezará o repositório inesgotável de ensinamentos velados
por alegorias que nos proporciona a história (ou a lenda) da construção do
Templo do Rei Salomão. Não desprezará a tradição dos maçons operários, só
porque a Arqueologia ainda não obteve provas irrefutáveis; não se negará
a tradição bíblica somente por insuficiência de escavações arqueológicas. Jules
Boucher, célebre obra "A Simbólica Maçônica": os maçons não tentam
reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais - é o
ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem
martelo no silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro
suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por
materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade)
e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, "o Templo de
Salomão não é considerado nem em sua realidade histórica, nem em sua acepção
religiosa judaica, mas apenas no seu significado esotérico, tão profundo e tão
belo". O Templo de Salomão é o templo da paz. Que a Paz do Senhor
permaneça nos nossos corações!
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